RSS

sexta-feira, agosto 14, 2009

Diploma de jornalismo – Ser ou não ser?


A discussão começou e a pergunta é única: Quem é jornalista afinal? Será que é o João da padaria que liga todo dia às seis da manhã pra rádio comunitária da cidade que mora falando que o pão já ta quentinho? Nossa! Uma notícia dessas é de primeira qualidade e ainda abre o apetite. Ou será a repórter gaga da Hebe, que mesmo não ten-ten-ten-tendo estu-tu-tudado jornalismo (ufa, quase não sai!) teve espaço na mídia ao fi-fi-fi-fi-filmar declarações próprias sobre o que ela considerou denuncias? (Para quem não lembra ou não sabe de quem se trata, basta digitar “repórter gaga” no youtube).

É verdade, o STF (Supremo Tribunal Federal) extinguiu a obrigatoriedade do diploma de jornalismo. Algo de novo até aqui? Não! Quantos repórteres, radialistas e jornalistas trabalham atualmente sem nenhuma formação profissional? Eu respondo: Mais do que você possa contar! E o que irá mudar diretamente na vida de nós estudantes ou futuros comunicólogos jornalisticos? Respondo também: Praticamente nada, pois se você tiver uma boa formação, estudar numa boa faculdade e fizer jus ao que exige a profissão – COMPETENCIA! -, o mercado irá atrás da sua qualificação profissional e não serão os novos ‘rábulistas’* que irão tomar posse do seu trabalho.
*rabulistas = soma irônica de rábula com jornalista.

Extra, extra... Notícia MUITO importante! Todo formando - hoje - está impossibilitado de adquirir o registro profissional cedido pela Delegacia Regional do Trabalho (DRT). Temporariamente está suspenso a liberação deste documento trabalhista até que sejam apresentadas medidas de filtragem sobre quem pode e/ou não pode atuar no mercado de comunicação noticiosa. Mas tenham calma! Segundo: Mauro Mallet, membro da maior comunidade do orkut com o nome JORNALISMO, durante uma investigação preliminar no DRT-RJ, conseguiu um registro profissional sem dificuldades. Ainda há esperanças. E dizem que ORKUT não é cultura e nem informação! PASMEM!

Engraçado, ao conversar com um amigo argentino sobre a queda do diploma ele riu e falou: “Diploma de jornalismo? Regulamentação? Pra que? Na Argentina nunca teve isso!”. Pior, para meu espanto, pesquisando melhor sobre esta informação, apenas uns dez países no mundo exigem tal papel, já incluindo na lista o nosso amado, imponente, idolatrado e superestimado Brasil (Lembrei a música de Ayrton Senna - pam pam pam); curiosamente países com desenvolvimento não muito avançado: África do Sul, Arábia Saudita, Colômbia, Congo, Costa do Marfim, Croácia, Equador, Honduras, Indonésia, Síria, Tunísia, Turquia e Ucrânia.

Você deve estar falando agora: “Nossa, esse cara é contra o diploma!”. Eu nego! E até quando puder falar distanciando-me da tortura regida pela ditadura militar: Sou a favor do diploma! Não parece, mas o meu discurso é um pouco diferente dos que defendem posição identica. Eu aprovo a exigência de tal nível de estudo, pois uma profissão regulamentada é mais bem fiscalizada diante do ofício; conteúdo; ato e piso salarial trabalhista. A regulamentação tem o papel fundamental num país como o Brasil, onde várias outras profissões não são e provavelmente nunca serão regulamentadas. Analisando quase que profundamente algumas delas:

- Arqueólogo (E viva as antigas civilizações)
- Astrônomo
(Se perder uma bussola olhe pro céu e procure o cruzeiro do sul)
- Caminhoneiro (o que seria do nosso país sem eles?)
- Estatístico (Será que o IBGE deixou de existir?
- Físico (Einstein que ligasse pra isso)
- Fisioterapeuta (Por favor, parem de quebrar os ossos! Sem estes profissionais, muitos estariam sem reabilitação por traumas e acidentes)
- Fotógrafo (Ultimamente o Orkut tem revelado vários talentos!)
- Historiador (Será que é porque eles falaram que o Brasil foi descoberto um dia?)
- Instrumentador cirúrgico (Acho que vou abrir um corpo. É impossivel um médico fazer uma cirurgia sem este profissional ao lado )
- Instrutor de formação de condutores de veículo automotor (Agora eu já sei por que tanto acidente de carro)
- Profissionais de marketing (Os políticos devem muito a eles)
- Profissionais relacionados à informática (E pensar que Bill Gates nem era formado quando criou Microsoft, aliás, ele se formou recentemente, sim, ele recebeu diploma em Harvard sem estudar, pela influência que teve para o avanço e popularização da tecnologia no mundo)
- Químico da indústria farmacêutica (Nossa! Não podemos mais tomar remédios)
- Técnico em radiologia (Eu bem que desconfiei que aquele raio-x tava errado!)
- Teólogo (Ah, é por isso que existe igreja até em padaria? Será que uma é a do João)
- Topógrafo (O que seriam dos nossos mapas sem eles?)

Realmente essas citadas não devem ser tão importantes, ao contrário estariam regulamentadas. Existe ainda outra discussão em pauta: No caso dos formados em fisioterapia, alguns médicos estão propondo a extinção da profissão/graduação. Segundo eles, deverá ser mantida apenas a especialização em medicina equivalente: Fisiatria ou Medicina Física
e não outro tipo de graduação. Poderiam pensar assim sobre os dentistas, não acham? O paciente para fazer uma obturação ou extração, no meio de tanta dor, teria que primeiro fazer uma consulta com um médico “ortodontointraosteoropológico”, que falaria: “Vai ter que obturar” ou “Vai ter que arrancar”, seguido de: “Vou te indicar um advogado-dentista amigo meu”. E se pensassem assim sobre os fonoaudiólogos? Não podem e nem devem esquecer os enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, terapeutas, biólogos e farmacêuticos. Pasmem! Acabem logo com tudo, pois para ser jornalista, basta ser médico! Que cúmulo!

Eu sou a favor de que outros profissionais especialistas em outras áreas consigam espaço na mídia, com algum tipo de fiscalização. Será que um jornalista formado ao falar sobre futebol terá certamente muito mais conhecimento do que um ex-jogador ou ex-técnico sobre um determinado jogo? Somente o fato de ser graduado garantirá que ele possuirá melhores comentários? Será que o diplomado em jornalismo, por obrigação, terá maior domínio sobre economia e política do que um economista ou cientista político? Em um programa ou espaço jornalístico sobre saúde terá muito mais conhecimento que médicos formados? (aqueles mesmos que querem destruir a fisioterapia). Entrevistando talvez, mas este saberá quais as perguntas certas em todos os assuntos? Mesmo que a pauta seja sobre Doença de Von Hippel-Lindau ou a síndrome de Guillain-Barré? Complicado!

O jornalista deve ter espaço no mínimo como mediador, mas não como o dono da verdade apurada e interpretada por ele. Eu sou a favor de que todo programa noticioso de rádio e TV, redações e assessorias, sejam fiscalizados por um comunicólogo. Neste caso, tais atividades só poderiam funcionar com a assinatura e fiscalização destes, mesmo que o detentor do conteúdo esteja entre o João da padaria ou médico “ortodontointraosteoropológico” – em quanto tempo a repórter/jornalista/comediante gaga, falaria esta palavra? –. Quem sabe até você que discorda e/ou apoia o meu texto ou o diploma! Seria um honra escrever pra Contigo ou Capricho, não acha? risos

Percebo que o alarde está imenso, pudera! Com mais de 500 cursos no país oferecidos nesta aera é complicado muita gente não se preocupar. Eu me preocuparia se de fato eu estivesse ingressando na profissão atrás unicamente de fama e curtição – objetivo de pelo menos 50% dos colegas estudantes ou ex-estudantes desistentes de jornalismo – , fora isso, não tenho com o que me preocupar, procuro ser um bom comunicador e tentarei tornar-me um dos melhores na minha futura profissão; o fato da regulamentação existir ou não, com certeza não prejudicará meu espaço nas redações e emissoras.

A exigência do diploma deve voltar, mas não acredito que dure mais de 10 anos, com certeza vai cair de novo. Pense pelo lado bom, se existir essa possibilidade: Quantas instituições que oferecem o curso não conseguiram formar turma este ano devido os acontecimentos e a qualidade de ensino? Será que o motivo principal é a dos vestibulandos que buscam fama e vantagens desistirem deste percurso devido aos fatos ou porque estas faculdades não ofereciam uma boa estrutura pro curso? Aqui em Salvador-BA pelo menos umas cinco não conseguiram este “luxo”. Culpa de quem? Da moda, sim, DA MODA, pois estudar jornalismo virou sinônimo de “status” para o estudante e de prestigio para a instituição de ensino superior.

Mas afinal de contas, será que sou a favor mesmo? Como já disse e repito, não parece, porém confirmo a minha posição positiva à regulamentação. Sou contra as diretrizes que revigoravam anteriormente. Acredito que o direito à comunicação deve ser de acesso à todos, mas a fiscalização do que é coerente ser divulgado, esta sim pode ser feita por um jornalista graduado, o que não garante em nada a qualidade profissional e responsável do conteúdo. Sendo filho de um repórter de TV com registro profissional de radialista e que atua na área a mais de 30 anos, asseguro por experiência e vivência própria de um estudante com 24 verões de vida, sem sombra de dúvidas, está para nascer o jornalista que só por ter a formação acadêmica terá mais qualidade que muitos não formados que atuam a anos na profissão. A experiência conta muito, talvez mais do que a teoria, porém é claro, quando o aluno é bom e tem o talento pra área, com certeza, será um excelente profissional em qualquer local que atuar. Está é a minha opinião!

Que venham – agora ou depois, tanto faz – as más ou boas notícias e que meus colegas pré-focas, focas ou graduados não temam o futuro, até porque ano que vem é período de festa... Festa? Sim! A copa do mundo e a eleição presidencial, que sugerem claramente: O tema aqui discutido deixará de ser pauta nas redações e na imprensa, talvez sobreviva nas bancadas de algumas faculdades. Aguardem, pois eu ainda sinto que finalmente enterrarão o grande ídolo do mundo pop: Michael Jackson - Forever!

A mídia racista e a raça bandida


O Brasil tem a formação constituída por diferentes matrizes étnicas e raciais, compondo assim uma sociedade multicultural. Apesar de possuir uma grande missigenação, a discriminação “racial” é algo que persiste nos diversos meios midiáticos. Em campanhas publicitárias e/ou filmes, o negro quase sempre é citado como a parte negativa do enredo. Ao retratar a imagem de bandidos da ficção – diga-se de passagem: seriados, mini-séries, novelas, longas e curtas-metragens –, o ator de pele escura é direcionado para o papel do personagem mal-caráter, salvo rarissimas excessões.


No país onde a diversidade de “raças” humanas é comum e marcante, a exclusão de um determinado grupo pela cor da pele é facilmente identificada por diversos conteúdos divulgados na mídia, definindo uma imposição de superioridade para uma “raça” de cor branca contra outra de cor negra, apesar de genéticamente, segundo Guido Barbujani – um dos maiores geneticistas contemporâneos –, em declaração no livro: A invenção das raças, não haver nada que diferencie uma da outra:


A palavra “raça” não identifica nenhuma realidade biológica reconhecível no DNA de nossa espécie, e que, portanto não há nada de inevitável ou genético nas identidades étnicas e culturais, tais como as conhecemos hoje em dia. Sobre isso, a ciência tem idéias bem claras.


Hoje, diversos grupos contra o racismo lutam pela igualdade social, independente da cor da pele, pois muitas pessoas não possuem a conciência de que esta realidade negativa existe no Brasil e no mundo, em vários casos nas atitudes simples do cotidiano. Acreditando não serem racistas, agem inconcientemente ao contrário. Ser contra o racismo não é apenas aderir a uma campanha, uma ideologia, um grupo ou a uma imagem; é conscientemente ter presonalidade ativa contra este comportamento desumano, deixando que a ignorância sobre o problema seja nula e as soluções em ações constantes sejam presentes.


Quantas vezes andando pelo canteiro de uma rua, ao ver um negro vindo em sua direção, você passou para o outro lado ou desviou-se dele com medo de ser assaltado e/ou abordado? Quantas vezes ao ver um mendingo negro lhe pedindo esmola na sinaleira, você fechou o vidro do carro? Aliás, será que também fechou os vidros quando os “doutores da alegria” – médicos, estudantes ou representantes de obras assistenciais, bem vestidos de branco ou fantasiados de palhaço, quando não, farsantes –, lhe pediram “ajuda financeira” na sinaleira para a continuação das obras assistencias que eles representam? Acredite! A culpa não é somente sua, é da televisão, da mídia e da cultura vivenciada, implantando em você, diáriamente, este sentimento de medo, e agora, ao ler este texto, acredito que de ressentimento.


Segundo a Constituição Federal, todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza e constitue princípios fundamentais da Republica Federativa do Brasil promover o bem comum, sem preconceitos de origem, “raça”, sexo, cor, idade ou quaisquer outras formas de discriminação. Mas por que ninguém da mídia é ou foi julgado ainda conforme a constituição brasileira? Se ocorreu, por que não foi divulgado? Segundo o artigo 5.º, XLII, da mesma constituição: “O Racismo é crime inafiançável e imprescritível”. Por que então não foi dada a mesma importancia que a imprensa dá na divulgação constante de negros sendo presos pela polícia – as vezes por roubar um “leite ninho” e em muitos casos inocentes –, sobre à condenação do irmão do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e vereador por Maceió, Robson Calheiros (PMDB), a dois anos e quatro meses de prisão por racismo, acusado de ofender a vereadora Fátima Santiago (PTB) chamando-a de "nega safada" durante uma festa, na casa de um parlamentar?


A falta de política pública, ou as precárias existentes, é a razão para a permanência dessa desigualdade de direitos, seja ela de imagem, de consumo, de posição social ou de respeito da sociedade. O governo não dispõe de programas sociais próprios dignos de mudança dessa estrutura “maquiada”. Todas as lutas que exigem respeito da mídia com a “raça” negra foram iniciadas por grupos minoritários, e devido a sua importância de enfoque social, criaram corpo e uma pequena voz entre a população e os políticos – Esse ultimo citado, na maioria dos casos, com interesse nos votos que os negros podem lhe creditar no período eleitoral.


Ainda é pequeno ou possui pouco destaque o retorno dessas lutas, pois assim como existem grupos que apoiam essa “igualdade social de cor”, também existem grupos que são indiretamente ou diretamente contra elas; caso típico do programa BBB (Big Brother Brasil) da Rede Globo de televisão, em todas as versões, os negros foram limitados a um ou dois participantes. Com excessão da ganhadora da versão 6 do reality show, a portosegurense Mara, que entrou na “casa virtual” por escolha popular, todos os demais participantes foram brancos, atléticos, “galãs de novela” e com a imagem de modelos fotográficos; quando negros, tinham a aparência física próxima dos demais, ou seja, com “biótipo branco”.


A comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias da Camara dos Deputados Federais, aprovou em 24 de abril de 2002, o projeto de lei 4370/98, do deputado Paulo Paim (PT-RS), que institui cotas para representação da etnia negra (afrodescendentes) nos filmes, anúncios publicitários, peças e programas veiculados pelas emissoras de televisão ou apresentados em cinemas. A ideia é obrigar a presença miníma de 25% de atores e figurantes negros nos programas televisivos (telejornais, telenovelas etc), extendendo a obrigatoriedade as peças teatrais; e de 40% nas peças publicitárias apresentadas nas tevês e cinemas, tendo como critério as denominações que o IBGE (Instituto Brasileiro de Geográfia e Estatística), usa para determinar pretos e pardos na classificação do censo.


Concordando com este projeto de lei, um exemplo pouco perceptivo. Nos comerciais publicitários de margarina, sempre é apresentada uma família branca, numa mesa farta de classe média, cantando a “idolatração” e a felicidade causada pelo produto a ser divulgado, em meio a uma “beleza ariana invejável”. Nunca é demonstrada a figura de um negro na mesma cena. Será que eles não comem margarina? Será que a venda nos supermercados, na hora de pagar pelo produto, o dinheiro válido e aceito é apenas o do “homem branco”? As poucas excessões são para os raros cosméticos destinados à beleza negra. Como ficaria então, se neste mesmo comercial, na mesa dessa mesma família, tivesse uma criança negra sentada? Será que a obrigação de negros na publicidade, através das cotas; criaria, neste caso em especial, o personagem figurante no papel de mordomo negro servindo a todos, em vez da criança na mesa?


Vale lembrar que, quando apreendidas pela polícia mercadorias ilegais ou irregulares, são classificadas pela mídia como oriundas do “mercado negro” – generalização para produtos contrabandeados. Nas novelas e filmes, quando há uma cena que representa um momento ruim para o personagem, muitas vezes é citado nas falas: “A coisa ficou preta”. São pequenos detalhes que demonstram a imposição insistente de inferiorizar individuos pela cor da pele, pela “raça”, pela história e pela cultura.